Machico na edição impressa do Jornal de Notícias de 23/03/2023, pelas palavras do conferencista de abertura e Geógrafo José Alberto Rio Fernandes, professor Catedrático da Universidade do Porto e investigador do CEGOT . 

"No extremo oriental da Ilha da Madeira, entre uma conferência, palestras, conversas várias e a observação informada pela companhia do presidente da Associação Insular de Geografia, aprendi muito em dois dias. Soube, por exemplo, que 65% da ilha tem uma inclinação superior a 25% e que 92% da população se acumula numa pequena faixa que vai de Machico à Calheta.

As construções não têm lugares aplanados suficientes para se implantarem e nem sempre cumprem a distância de segurança das muitas ribeiras e dos seus leitos de cheia. Daí, resulta a imagem das casas dispostas em cascata nos menores declives, como a maior frequência de acidentes com queda de blocos ou cheias.O turismo representa mais de 25% da riqueza. A ilha, com 741km2 e 250.744 habitantes, atingiu os 9,5 milhões de dormidas turísticas em 2022, a que há que somar os que ficam nos paquetes, mas enchem as ruas do Funchal.

O Porto tem uma população residente praticamente igual: 231.962. Não é ilha. Mas, na comparação, dá que pensar que registe mais de metade das dormidas (4,8 milhões) em 5,6% da área (41,4Km2). Sendo que, em ambos os casos, o número de dormidas aumenta e o número de residentes diminuiu de 2011 para 2021.Compreensivelmente, a congestão é cada vez mais frequente em vários lugares, em especial nas levadas e miradouros (no caso da Madeira), como nas estradas de acesso. E, claro, todos me falaram da dificuldade em aceder à habitação.

De resto, a Madeira continua linda. Se Funchal está bem melhor que há 10 anos, recomendo Machico e, muito em particular, a Ponta de São Lourenço. Se puder, vá lá, o quanto antes. Com tempo e respeito por um lugar fabuloso, marcado pelo esplendor das marcas do vulcanismo no contacto com o mar, onde falta apenas um pouco mais de proteção e reconhecimento."